Análise - Layers of Fear

(De notar que esta análise faz parte da republicação de algumas análises do PSGames Power, o blog a que este sucedeu, e esta análise algo reajustada agora, é originalmente de 2017)

Layers of Fear é um jogo que nos conta uma jornada psicológica pela mente de um artista em estado de loucura, apesar de não se poder dizer que é totalmente horror, acaba a ter alguns jump scares ocasionais sendo que estar classificado como horror psicológico a meu ver não se enquadra na totalidade mas sim em parte, talvez aqui o objetivo fosse causar pânico pelo estado de paranoia que vamos experimentar mas penso que no fim do dia o objetivo seja mostrar-nos um dos recantos da nossa mente, quando atingimos desespero e loucura total.

O jogo mete-nos nos pés de um pintor a vaguear pela sua própria casa em que ao inicio não nos parece nada demais apesar de chover torrencialmente no exterior e a casa em alguns locais ter pouca luz (, o cenário perfeito para sustos à partida,) sendo a mesma de velas, podemos também acender alguns candeeiros por vezes ou luzes de teto, mas os candeeiros pouca iluminação acabam a dar muitas vezes. Vagueamos um pouco pela casa e de notar que somos coxos, para além do movimento da cabeça temos ainda o coxear aliado para uma movimentação mais realística, mas para quem quiser pode desligar o movimento da câmara para não se abanar na questão de simular o andar e coxear.

O nosso objetivo será fazer aquilo que este pintor tem tentado fazer há vários anos, terminar a sua obra prima, apesar de me apetecer revelar o que é a sua obra prima em pintura, iria arruinar a experiência, digamos só que a sua decadência mental iniciou-se com um trágico acidente que vitimizou a sua mulher deixando marcas na sua mente para a vida e foi a partir dai que tudo começou, começando a isolar-se no seu estúdio em casa, bebendo grandes quantidades de álcool, ele começou a perseguir a tentativa de criar a sua derradeira obra, negligenciando a sua mulher e filha, e começando a sua descida em direção à loucura e desespero, e ao longo do jogo vamos poder ter vários vislumbres por objetos com grande significado de vários desses momentos, sendo que para além destes vislumbre, a nossa jornada vai ser maioritariamente artística através de uma mente desfeita em que perdemos a noção de quantos quartos e secções tem a casa, com portas a aparecer onde não existiam, paredes que se abrem num virar de costas e não só. As ilusões mentais de uma mente artística são fenomenais, acabamos a olhar para o teto e a ter um corredor sem fim em direção a um vazio, às tantas estamos a observar cada sala, corredor, ou quarto, pois ficamos com a sensação que ainda perdemos uma delas. Também temos a oportunidade de recolher várias notas e cartas que mostram à sua maneira mais partes dos acontecimentos e da loucura que se ia instalando na mente do nosso protagonista, ao ponto de comunicar com a sua mulher por pequenas notas em pedaços de papel.

A jogabilidade é super simples, em movimento já expliquei como funciona, uma parte interessante trata-se no abrir de portas, ou gavetas, ou no mexer em objetos interativos do ambiente em que agarramos uma maçaneta, um puxador ou alavanca por exemplo com o R2,  e fazemos o movimento de abrir a porta por exemplo com o analógico direito, gostei bastante desta mecânica, podemos ainda correr apertando o L2 sendo que não é bem bem corrida, mas sim um andar mais rápido. Para além do tipo de jornada que tentei descrever mas que só jogando se compreende a fundo, acabamos a ter alguns puzzles, nada demais, mas que nos mostra que devemos estar atentos ao que nos rodeia, as manifestações de loucura em forma de ilusões penso que estão fantásticas, e mostram que não precisamos de criaturas medonhas para começarmos a imaginar e a ansiar o que virá a seguir, apesar de sabermos que não será nada de fatal. Fica ainda a nota que o jogo foi feito para ser descoberto, e que não será num só playthrough que o vão descobrir a 100%, algo interessante visto que este é algo que merece ser rejogado mais que uma vez.

A nível visual este é dos jogos mais bem concebidos que vi, revirando em torno do mundo artístico também não iria esperar menos, temos um grande nível de detalhe, não só nos efeitos das ilusões mas no ambiente do jogo em si e nos seus objetos, não notei nada que tivesse sido negligenciado e isso é algo que neste tipo de experiências já reparei que leva muita atenção, seja em jogos destes, seja em walk simulators, os detalhes dos ambientes, modelos de objetos e não só são sempre algo belo de se apreciar, e a casa do nosso pintor vai ter muito para pararmos e apreciarmos. Também devemos mencionar que a sua experiência estende-se ao som como seria de esperar, a sua banda sonora ajuda a criar o clima com mais imersão, sem deixar de falar nos efeitos sonoros de uma mulher a cantar por exemplo, ou no ranger de tábuas num piso de cima ou em baixo daquele que estamos, o choro de uma criança, tudo coisas bem posicionadas nos momentos certos.

Por fim devo dizer que não será um jogo para todos, mas sim para quem procura uma jornada psicológica que não precisa de ação real, digamos assim, para brilhar e nos cativar, eu nestes jogos fico sempre de pé atrás, criei um conceito na minha mente há vários anos que encontrar jogos deste tipo hoje em dia, point n’ click, puzzlers, algumas aventuras gráficas, de qualidade seria quase impossível, mas fico feliz de estar a ver o contrário, e a perceber que a ideia que criei na minha cabeça estava errada, e que temos cada vez mais experiências do género com grande qualidade, e este é um que deve ser jogado pelos amantes do género sem dúvida.

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